Cabelos bagunçados pelo ventilador, o mundo abafado pela música no meu fone de ouvido, uma mesa de sinuca manchada de vinho barato e cinzas de cigarro. O calor não me incomoda tanto quanto a serenidade imperturbável que estou experimentando. É novo sentir-se em câmera lenta, pensar que o mundo está rápido demais e que o … Continue reading Sentidos
Faltavam dez minutos pras onze horas. Virgínia recostou a cabeça na janela do carro e deixou que o vento fresco afastasse todos os seus pensamentos. O carro deslizava livremente e Virgínia sentia a preguiça se aproximando. Deixou que seus olhos percorressem o caminho, quase desinteressados, quando se depararam com algumas pessoas apoiadas no muro cercado … Continue reading Os pássaros
Tentei pensar em alguma coisa pra te dizer. Tenho passado o dia entre pensamentos e expirações, você em cada golfada de ar. Não choro, não perco o sono, nem o apetite, mas perco o gosto. Não consegui pensar em nada pra te dizer. Talvez se você pudesse vislumbrar meu coração, que bate fraco e aos … Continue reading Pra te dizer
We saw a very drunk man today asking for pennies on the signal. His clothes were shred and dirty and he could barely talk, just kept moving around randomly. My mom shut the windows afraid he could threat us if we didn't give him anything, but he didn't approach our car. We laughed a little … Continue reading The beggar and a very desperate text on adulthood
Mundo mundo vasto mundo, Drummond Não consigo me lembrar de quando o mundo deixou de ser imenso e passou a ser apenas mundo, e depois quando voltou a ser imenso outra vez. Minhas escalas alternadas filtram as cores, formas e tamanhos do que vejo e que circulam em mim como bombeados por um coração, como … Continue reading A bicicleta, o carro e o livro
Está chovendo, mas não é inspirador nem reconfortante, é chuva, é fresco e o cheiro é de vida. Por algum motivo me sinto mórbida ou intensa, nada falta, nada sobra, estou saciada. Aliás, saciada não. Estou faminta a ponto de quase me enroscar em mim mesma pra ampliar a sensação da fome. Penso que sou … Continue reading O que resta é tempo
Na minha frente, Drummond. Uma imagem em preto e branco, busto, braço esquerdo, óculos de fundo de garrafa, ocultos os olhos na sombra. Olha-me como se me visse. Os lábios selados como se tentasse passar a mim uma mensagem. Taciturno, olha-me veemente, mas não posso entender que me diz. Ocultos os olhos, não sei se … Continue reading Receptáculo
Ele estava sentado na sarjeta e era tarde, bem tarde, aliás era bem cedo, tão cedo que nem despontava ainda o Sol. Não havia ninguém na rua, nenhum mendigo abrigado em papelão, sequer um gato vadio. Ele trazia sobre si um longo sobretudo preto que devia indicar que ele não pertencia àquele lugar, mas quem … Continue reading O sobretudo
Quando olho pra luz ela está sempre estourada e me deixa a ver galáxias quando desvio meus olhos defeituosos. Quase esqueço o formato das lâmpadas se não recordasse que ainda posso vê-las apagadas. De vez em quando meus olhos se cruzam daí consigo ver em duas direções ao mesmo tempo - nunca sei qual dos … Continue reading É de manhã
Quando eu era pequena - não sei ao certo qual idade tinha quando começou e quando foi acabando, eu costumava acompanhar minha tia e seu marido nas viagens pra Buriti Alegre onde mora ainda na mesma fazendinha a Dona Jamira e o seu Catonho. Eu ia feliz e satisfeita sem nenhum receio de me separar … Continue reading Pequenezas